Parte destinada à artigos relacionados aos Monges Beneditinos de Mineiros e a Vida Beneditina.
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VIDA BENEDITINA EM GOIÁS . D. Josias Dias da Costa, OSB. Embora o primeiro mosteiro beneditino do Centro-Oeste do Brasil só tenha sido fundado a 26 de abril de 1962, em Mineiros, pelos Monges Beneditinos que vieram, em 1961, da Abadia de São Bento de Atchison, Kansas, Estados Unidos, a presença dos Beneditinos em Goiás se confunde com a origem do próprio Estado de Goiás, no século XVIII. Conforme o Livro do Tombo do Mosteiro de São Bento da cidade de São Paulo, José Peixoto da Silva Braga, menciona Fr. Antônio da Conceição e Fr. Luis de Sant’Anna como acompanhantes de Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhangüera 2o, na expedição ao sertão de Goiás, em 1722. Fr. Luis faleceu no sertão e seus depojos foram trasladados para o Mosteiro. Ali se destaca uma lápide tumular, situada na parte externa da parede da Igreja de São Bento, ligada ao claustro, com os seguintes dizeres: OSSOS DO M. R. PREG. FR. LUIS DE St.ª ANNA. FALECEO A 19 DE ABRIL DE 1723.1
Também a historiadora
Irmã Áurea Cordeiro Menezes se serve, em levantamento de dados para um livro
sobre a História da Igreja em Goiás, do testemunho do alferes Silva Braga, a
respeito dos dois religiosos bentos, que se faziam acompanhar também do franciscano
Fr. Cosme de Santo André: “Aos dois religiosos do patriarca São Bento, que vão por capelães da tropa, é preciso também para que, vendo os índios que habitam aqueles sertões, a estimação que se faz deles, abracem com mais fervor e eficácia a nossa fé”.
Pelo relato de Silva Braga, conclui-se que a viagem do Anhangüera e seus comandados, incluindo escravos negros e índios, foi uma tragédia, com revoltas contra o Anhangüera e o seu genro Ortiz, traições, discórdias, assassinatos, fugas, fome e sede. Os sobreviventes chegaram a comer um cavalo. Atacaram aldeias indígenas, mataram seus habitantes e saquearam seus paióis. Muitas vezes num estado de inanição e desânimo, foram salvos pelo palmito da guariroba2, que os futuros goianos nunca mais deixariam de dispensar em suas cozinhas. Irmã Áurea destaca no depoimento de Silva Braga o fato de que, diante de tudo isso, “esteve sempre firme a palavra sacerdotal dos dois beneditinos”.
O território dos “Guayazes” foi conquistado à força e incorporado à Capitania de São Paulo, como propriedade da Coroa portuguesa. Com a descoberta do ouro,
tornou-se habitado por uma elite mineradora que para ali afluiu com tal
ganância que levou ao extermínio enorme contingente das nações Goiás prosperou tanto durante a
fase mineradora que se tornou, em
1749, uma Capitania autônoma de São Paulo.
Mais tarde, quando se tornou
Província, a cada governo, um
grande número de empresas foram
feitas para combater os índios sobreviventes, que com suas “correrias”
punham em pânico os habitantes de todas as regiões. A “conversão” dos índios,
feita, desde os tempos dos bandeirantes, à base de espingardas, continuou
durante o Império, que mantinha uma espécie de secretaria, com o nome “Catequese”,
destinada às questões indígenas.3 Mas, durante o Império, os
beneditinos, recluídos no litoral, ficaram de fora desse empreendimento.
Ademais, talvez em razão da autonomia dos mosteiros beneditinos, a
perseguição aos monges por parte da Corte era tão grande, que quase levou à
extinção da Ordem de São Bento no Brasil. Ainda na Velha República,
chegaram ao Brasil jovens monges alemães, com o objetivo de repovoar os
mosteiros e durante muito tempo estiveram voltados para a restauração da vida
monástica, numa perspectiva que não incluiu a expansão deste estilo de vida
para o interior do país. Em Goiás, além da fundação
de Atchison, os monges franceses D.
Felipe Leddet e D. Pedro Recroix, da Abadia de Tournay, reforçados por D.
Marcelo de Barros Souza, da Abadia de Olinda – PE,
iniciaram uma fraternidade na Cidade de Goiás, em 1977, que resultou no
Mosteiro da Anunciação do Senhor. Logo, este mosteiro recebeu novos membros,
como os irmãos Celso Leonel Carpenedo e Marcos Ribeiro Moraes.
Também a Abadia de Santa Maria, de Morristown, Nova Jersey, Estados Unidos, enviou a Goiás quatro monges: D. Edmund Nugent e D. Kevin Bray, em 1963, D. Columba Rafferty, em 1966, e D. Sebastian Joseph, em 1967.
D. Kevin prestou serviços em
Itumbiara (1963-1964) e voltou aos Estados Unidos. Na
mesma época, D. Edmund foi pároco e responsável pelo Seminário Menor em
Orizona, depois foi pároco em Urutaí, Cumari e Anhangüera. D. Columba
Substituiu D. Edmund em Urutaí, onde permaneceu até 1985, e D.
Sebastião foi auxiliar de D. Edmund em Cumari até 1971, quando sofreu um
ataque cardíaco e veio a falecer em Araguari – MG. Embora tenham estudado a
possibilidade de fundar um Mosteiro em Orizona, que viam como lugar promissor,
isso não se tornou realidade. Em 1975, D. Edmund seguiu para
Silveiras – SP, onde permaneceu até a morte, em 1995. 4 Também um outro monge da Abadia
de Saint Meirad, Indiana, D. Bento Meyer, trabalhou nas terras goianas, servindo
em Jataí, de 1973 a 1976, quando visitou algumas vezes o Mosteiro São José. Convém ressaltar que os dois
mosteiros beneditinos – de Mineiros e Goiás – se firmaram de modo
definitivo numa terra em que a presença indígena se resume três minguadas
reservas – Carajá, Tapuio e Avá-Canoeiro –, que só Deus sabe como
conseguiram sobreviver. Nos tempos mais recentes, a
Abadia de São Bento de Olinda enviou o Abade Emérito D. Basílio Penido* e alguns monges a
Brasília, e ali eles fundaram, a 14 de julho de 1987, o Mosteiro de São Bento,
hoje dirigido pelo Prior Conventual D. Emanuel Xavier Oliveira de Almeida. Enquanto isso, o Mosteiro São
José, de Mineiros, gestava uma idéia que se foi amadurecendo até se tornar
realidade: a de se erguer, em Goiânia, um mosteiro que serviria de centro de
formação dos novos monges e também, futuramente, de centro de irradiação da
vida monástica e da espiritualidade beneditina para todo o
Brasil Central. Foi assim que, em 10 de julho de 1997, criou-se ali o
Mosteiro São Bento, numa casa alugada junto às Irmãs Franciscanas dos Pobres.
Em 2002 a comunidade beneditina
de Mineiros deu início à construção de um prédio, através de uma empresa
do eficientíssimo e muito bem recomendado engenheiro Vicente Souto Júnior. A
inauguração desse prédio, uma bela concepção arquitetônica do arrojado e
famoso arquiteto Wilson Jorge, está prevista para o dia 11 janeiro de 2004.
[1]
Cf. op. cit., p. 9 [25] e 12. [1]
Cf. Memórias Goianas I,
UCG, 1982, p. 11s. [1]
Cf. Memórias Goianas 6,
p. 132-135; 8, p. 84-87;
9, p. 28-29; 12, p. 230. Dr. Joaquim Ignacio Ramalho, presidente da província
de Goiás, torna-se uma exceção ao defender, em 1847, uma catequese dos índios
por meios pacíficos. Cf.
op. cit, 4, p. 72-74.
[1]
Os dados foram fornecidos pelo Abade Thomas, com auxílio do Abade Brian e do
Abade Martin, arquivista da referida Abadia. * Abade Penido faleceu dia 2 de
junho de 2003, no Rio de Janeiro. |
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